Questionamentos após a descoberta da assexualidade



A pessoa descobre o termo “assexualidade” e, ao pesquisar sobre ele, finalmente entende a si mesma. É um grande alívio. Ela não está sozinha. Existem outras pessoas como ela, e, por fim, ela poderá ficar em paz consigo mesma. Será?

Após a descoberta da assexualidade, deparamo-nos com uma grande quantidade de questionamentos. É extremamente comum ver relatos de assexuais na internet apresentando dúvidas sobre uma possível “legitimidade” da sua assexualidade. “Eu posso ser assexual se eu for assim?”. “Ainda que eu me sinta de determinada forma, eu posso ser assexual?”.

 Masturbação  

Principal causador de questionamentos, muitos assexuais, em um primeiro momento, temem que o fato de praticarem masturbação possa significar que eles não sejam assexuais.

Em pesquisa realizada na AVEN (Asexual Visibility and Education Network), 70% dos assexuais do sexo masculino e 60% do sexo feminino afirmaram se masturbarem. Ocorre que a masturbação para o assexual possui significado diferente da mesma prática para os sexuais, pois o sexual geralmente pratica a masturbação como uma forma de simulação da relação sexual com outra pessoa, diferente do assexual.

“Mas ver cenas de sexo podem me causar excitação, o que me leva à masturbação”. “Pensar em coisas sexuais podem me servir de estímulo à masturbação”. Apesar dessa realidade entre alguns assexuais, esses exemplos não “deslegitimam” a assexualidade dessas pessoas. Muitas vezes, o erotismo desse tipo de pensamento ou cena pode servir como ativador da libido – presente em muitos assexuais - que leva à excitação e, consequentemente, à masturbação. Mas isso não chega a fazer, via de regra, com que a prática da masturbação para o assexual ocorra como uma simulação de relação sexual com outrem.

 Atração estética 

“Eu consigo perceber e admirar de forma bastante intensa a aparência física de pessoas de mesmo sexo que o meu ou do sexo oposto. Mas se o assexual não sente atração sexual, eu posso, então, não ser assexual?”.

Para entender a assexualidade, é necessário desmembrar alguns conceitos que costumam funcionar de forma conjunta para os sexuais. Da mesma forma que a atração romântica e a atração sexual são coisas diferentes para nós, a atração estética também pode se manifestar por si mesma sem depender da atração sexual e, por isso, não faz com que uma pessoa deixe de ser assexual pelo simples fato de senti-la.

 Traumas e patologias 

Ao ler que "a assexualidade não é doença", algumas pessoas que se identificam como assexuais e já vivenciaram determinadas situações traumáticas ou que sofrem de certas patologias ficam receosas com a sua identificação assexual. Uma pessoa autista não pode ser assexual? Uma pessoa que já sofreu estupro não pode ser assexual?

Qualquer resposta generalizada que nós déssemos estaria errada, pois cada caso é um caso e não nos cabe julgá-los de forma geral. Mas é importante ressaltar, para responder essa questão, que o fato da assexualidade não ser uma doença não significa que pessoas portadoras de patologias e traumas não possam ser assexuais.

 Sexo 

“Eu não tenho interesse nenhum na prática sexual com outras pessoas, mas, em algumas da vezes que fiz sexo, acho que posso dizer que gostei. Posso não ser assexual?”.

Para responder essa pergunta, precisamos nos encaminhar para um último tópico:

 Assexualidade é uma forma de identidade 

Se você tentar encontrar uma base para o fato de você ser assexual na percepção da assexualidade que as outras pessoas possuem delas mesmas, questionamentos acerca da sua forma de identidade vão surgir, pois ninguém é igual a ninguém, logo, a sua percepção da assexualidade também não será igual à de ninguém.

Se você já se masturbou idealizando a prática sexual com outrem, ou mesmo se você já gostou de determinados momentos em que fez sexo, não necessariamente terá anulada a possibilidade de ser assexual, porquanto, além da existência da faixa cinza da sexualidade humana como estado intermediário entre a assexualidade e a sexualidade, não é o que você faz ou deixa de fazer que o torna assexual, mas sim o que você é. Não existe um diagnóstico ou mesmo um conjunto de características pré-determinadas para dizer se você é assexual ou não, pois assexualidade é como nós nos sentimos, como nós nos identificamos.

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